segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

ECOMUSEU PEDRA FUNDAMENTAL DE BRASÍLIA

ECOMUSEU PEDRA FUNDAMENTAL DE BRASÍLIA
(Concepção, origens, objetivos...)

I – Base histórico-conceitual introdutória

Ecomuseu é um conceito de museus colocado em prática na década de 1970, na França. Neste tipo de museu, membros de uma comunidade tornam-se atores do processo de formulação, execução e manutenção do mesmo, sendo ou podendo ser em algum momento, assessorados por um Museólogo. Um "ecomuseu" é o modelo contemporâneo de museu, seguindo os atuais paradigmas científico-filosóficos em oposição ao modelo tradicionalista cartesiano.
O prefixo "eco" faz alusão tanto ao entorno natural, a 
ecologia, como ao entorno social, a ecologia humana.
O primeiro anúncio público do termo "ecomuseu" foi feito em Dijon, no ano 1971, por Robert Poujade, na altura presidente da Câmara Municipal desta cidade francesa e ministro adjunto do Primeiro-ministro responsável pela protecção da natureza e do meio ambiente, um cargo que se pode considerar precursor dos ministérios do Ambiente.
Esta referência ao termo "ecomuseu" foi feita por Poujade durante a 9ª Conferência Geral do ICOMConselho Internacional de Museus, mas o criador da palavra "ecomuseu" terá sido ou Hugues de Varine ou Georges Henri Rivière, dependendo dos autores consultados.
O termo "ecomuseu" surgiu durante um almoço num restaurante, na Avenida de Ségur, em Paris, em 1971. Neste encontro, para além de Varine, estavam também Rivière e Serge Antoine, conselheiro do governante Robert Poujade.
Se se pode dizer que o conceito "ecomuseu" foi gestado por Hugues de Varine, o seu esboço já existia nos pensamentos de Georges Henri Rivière, que podem ser considerados uma base para o que Varine definiria de "museu ecológico", no sentido de museu do homem e da natureza, relativo a um território sobre o qual vive uma população.

1.1 – Implantação em França

Rivière e Varine, foram os primeiros secretários gerais do lCOM e desempenharam um papel fundamental para o surgimento do conceito de ecomuseu, em França, depois da II Guerra Mundial, e ao seu nascimento. Um nascimento que aproveitou a tomada de consciência, por parte do estado francês, do seu excessivo centralismo por volta da década de 1950 e início dos anos 60, numa altura em que cresceram problemas como o baixo nível de vida ou o êxodo rural.
Em 1963, a aplicação de uma nova política de ordenamento do território vai tornar turismo numa importante fonte de receita, particularmente para determinadas zonas rurais, especialmente as que se encontram em áreas protegidas, onde em 1967 começam a ser criados parques naturais regionais. Os financiamentos destinados aos parques permitem a criação de estruturas museográficas e as novas ideias, ligadas à "Nova Museologia", vão sendo postas em prática, com o conceito de ecomuseu a implantar-se e a desenvolver-se, criando um estatuto próprio.
Ainda em 1971 a Maison de l’Homme et de l’Industrie criou na localidade de Creusot, o que pode ser considerado de protótipo de ecomuseu, onde a ideia era levar os visitantes a tomar iniciativa e a apropriar-se das acções do museu.

1.2 – Definição

De acordo com palavras de Rivière, o conceito de ecomuseu é evolutivo e como tal não pode ser definido de forma estática, acompanhando a evolução da sociedade e sendo uma instituição dinâmica.
O Rivière citaria F. Hubert, em 1993, afirmando que ele próprio, Rivière, teria construído três versões diferentes da definição evolutiva do ecomuseu, remontando a primeira ao ano de 1973, em que caracterizava o ecomuseu como um museu de um novo género, tendo por base três noções: a interdisciplinaridade baseada na ecologia, união com a comunidade e a participação desta comunidade na sua construção e no seu funcionamento. Já três anos depois, em 1976, surgiria a segunda definição, referindo a sua estrutura como um museu que surge violentamente, formado por um organismo primário coordenador e organismos secundários, tendo como um dos seus objectivos a interpretação do meio ambiente natural e cultural, no tempo e no espaço. A terceira versão, em 1980, entende o ecomuseu como o museu instrumento dos indivíduos e da natureza, museu do tempo, museu do espaço, sendo por isso o local de excelência para a real expressão da humanidade e da natureza.
Neste quadro, pode recorrer-se à definição que Jean Clair apresentou no seu livro de 1976, em que descreve o ecomuseu como "Museu do espaço e museu do tempo, ele se ocupa de apresentar, por sua vez, as variações de diversos lugares num mesmo tempo, de acordo com uma perspectiva sincrônica, e as variações de um mesmo lugar em diversos tempos, de acordo com uma perspectiva diacrônica".
Na mesma obra, referindo-se à necessidade de agir para proteger estes conjuntos ambientais, Clair explica ainda que "O que o Ecomuseu postula, mais do que uma participação do público, é uma cooperação dos habitantes".
Entretanto, Varine constatou em 2005 que o termo "ecomuseu", em virtude de uma série de mal-entendidos, foi sendo usado quer para designar esquemas inovadores, quer em projectos convencionais.

1.3 – Diferença para a forma tradicional

As diferenças entre o "museu" e o "ecomuseu" podem ser baseadas nas definições da "Nova Museologia" onde, por exemplo, André Desvallées, identifica uma nova preocupação com o público e com a forma como o espaço se dirige ao público. Uma preocupação que não se foca na quantidade de público, mas sim na qualidade na interacção que possa haver entre o indivíduo e o objecto.
Em concreto, para Varine, o "novo museu" é diferente do "museu" tradicional em três vértices. Uma vertente é o realce dado ao TERRITÓRIO, seja meio ambiente ou local, em vez de se realçar o prédio institucional. Outro ponto está na ênfase colocada no PATRIMÔNIO, em vez de ser dada à colecção e por fim, a importância dada COMUNIDADE em oposição ao enfoque dado aos visitantes nos museus tradicionais.
Varine, em 1974, sintetizou estas ideias neste quadro: Museu Tradicional baseia-se na tripé: Coleção, Público e Edifício; No Ecomuseu temos: Patrimônio, Comunidade, Território.

II – ECOMUSEU PEDRA FUNDAMENTAL DE BRASÍLIA (Ecopeb)

            A ideia de se criar o ECOPEB é resultado das inquietações históricas e socioambientais de um grupo de pesquisadores da Eco-história do Planalto Central do Brasil que se congrega em torno da concepção de historiografia de autores cuja linha teórica segue os pressupostos metodológicos do historiador Paulo Bertran (1948-2005). Esse autor buscou, em síntese, construir uma historiografia por meio da qual concebe-se a historicidade de Brasília a partir da pré-existência de sua territorialidade colonial na confluência ou interconexão das zonas mineradoras (MG/BA x GO/MT) e pastoris (Vale do Rio São Francisco – o rio dos currais). Em 1736 era oficializada por D. João V a Estrada Real da Bahia, também conhecida como Estrada Geral do Sertão. Essa estrada ou picada conectava caminhos, contagens e registros fiscais da Coroa Portuguesa, mas também conectava pessoas, bens e serviços entre as duas zonas citadas. O território que hoje constitui o Distrito Federal e seu Entorno (RIDE-DF) é resultado desses intercâmbios entre os séculos XVIII e XIX. Brasília não é somente fruto das pranchetas de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, ou dos “cálculos políticos” da elite litorânea querendo apossar-se do interior do país para incorporá-lo ao Capitalismo.
            Brasília não pode mais ser compreendida apenas dentro do projeto de interiorização do desenvolvimento nacional pautando-se o debate acadêmico sob o crivo positivista (linha do tempo) demarcador de datas a partir de Tiradentes (Inconfidência Mineira – 1789), da Independência do Brasil (Correio Braziliense/José Hipólito Furtado de Mendonça/José Bonifácio de Andrada), dos debates político-parlamentares do Império e do início da República (1822-1930) e do idealismo utópico-personalista de Juscelino Kubitschek (anos 1940/50). Se este tipo de compreensão sobre a configuração de Brasília inclui tão somente uma concepção elitista sobre a origem desse projeto, por outro lado, buscamos outro entendimento que passa pela valorização de “narrativas marginais”, que foram historicamente relegadas desde a década de 1950 quando Brasília fora construída e inaugurada.
            Compreender Brasília e o impacto de sua modernidade sobre o Brasil Central implica, pois, em construir novas concepções de historicidade que levem em conta o Legado Histórico-cultural, Geográfico-institucional e Socioambiental de Goiás e Minas Gerais na formação do território do Distrito Federal. Mais do que interpretar leis (Constituição de 1891), mais do que entender as diversas comissões (Missão Cruls – 1892/1894 – entre elas), mais que mistificar a edificação da nova capital (profecia de D. Bosco – 1883), o ECOPEB se propõe a pautar um novo debate acadêmico que compreenda Brasília e a RIDE-DF (Região Integrada de Desenvolvimento do DF e Entorno, instituída pela Lei Complementar 94/98) como uma só unidade cultural, histórica e socioambiental, valorizando a contribuição do Sertão Planaltino (conceito do historiador Luiz Ricardo Magalhães) enquanto espaço de interações multiculturais, sim, mas com foco no rico repositório de tradições, experiências históricas e ambientais acumuladas e multisseculares.
Percorrer esses itinerários onírico-utópicos nas curvas do tempo poético-ecomitológico em travessias literário-musicais do Planalto Central não é apenas voltar-se ao Passado do DF-Colonial, mas também devolver aos herdeiros dos antepassados desses lugares-ecomuseus vivos de Brasília a valorização da ancestralidade de fazeres e saberes locais que persistem na Modernidade sem sucumbir-se à Globalização. O ECOMUSEU PEDRA FUNDAMENTAL DE BRASÍLIA – ECOPEB traz em seu bojo três objetivos ou princípios basilares:
A.    Promover estudos multidisciplinares que reconstituam a eco-historicidade dos lugares ou paisagens culturais anteriores à inauguração de Brasília (1956-1960) e as narrativas dos grupos sociais comunitários que os habitam, produzindo materiais teóricos e pedagógicos (livros, documentários, cartilhas, etc) que possam orientar professores e estudantes a construírem uma sólida e duradoura consciência de pertencimento social-ecológica fundada na reapropriação coletiva dos bens patrimoniais ainda existentes no Norte do DF e em seu Entorno, inclusive pelos moradores dessas localidades;
B.    Promover visitas monitoradas (passeios pedagógicos ou eco-turísticos junto às paisagens e às comunidades locais) ao longo da região abrangida pelo ECOPEB como estratégia de valorização e divulgação permanente dessas comunidades, territórios, patrimônios, legados...
C.    Montar nas casas dos moradores e em repartições públicas (escolas) situadas na área de abrangência (no DF: Planaltina, Sobradinho I e II, Fercal, Paranoá, Itapuã e Lago Norte; em Goiás: Planaltina, Água Fria de Goiás e Formosa), diversos espaços interativo-comunitários aos quais denominamos de Centros de Referência Identitária e Apoio Regional aos Transeuntes do ECOPEB CRIARTE.

III – Referências:

v https://pt.wikipedia.org/wiki/Ecomuseu, acesso em 2/9/16. Sinopse feita pelo historiador Xiko Mendes a partir da fonte citada.
v www.cerratense.com.br

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