ECOMUSEU
PEDRA FUNDAMENTAL DE BRASÍLIA
(Concepção,
origens, objetivos...)
I – Base histórico-conceitual
introdutória
Ecomuseu é um conceito de museus colocado em prática na década de 1970, na França. Neste tipo de museu, membros de
uma comunidade tornam-se atores do processo de formulação, execução e manutenção
do mesmo, sendo ou podendo ser em algum momento, assessorados por um
Museólogo. Um "ecomuseu" é o modelo contemporâneo de museu, seguindo os atuais paradigmas
científico-filosóficos em oposição ao modelo tradicionalista cartesiano.
O prefixo "eco" faz alusão tanto ao entorno natural, a ecologia, como ao entorno social, a ecologia humana.
O prefixo "eco" faz alusão tanto ao entorno natural, a ecologia, como ao entorno social, a ecologia humana.
O primeiro
anúncio público do termo "ecomuseu" foi feito em Dijon, no ano 1971, por Robert Poujade, na altura presidente da Câmara Municipal desta cidade francesa e ministro
adjunto do Primeiro-ministro responsável
pela protecção da natureza e do meio ambiente, um
cargo que se pode considerar precursor dos ministérios do Ambiente.
Esta referência ao termo
"ecomuseu" foi feita por Poujade durante a 9ª Conferência Geral do ICOM, Conselho Internacional de Museus, mas o criador da palavra "ecomuseu" terá sido ou Hugues de Varine ou Georges Henri Rivière, dependendo dos autores consultados.
O termo
"ecomuseu" surgiu durante um almoço num restaurante, na Avenida de
Ségur, em Paris, em 1971. Neste
encontro, para além de Varine, estavam também Rivière e Serge Antoine,
conselheiro do governante Robert Poujade.
Se se pode
dizer que o conceito "ecomuseu" foi gestado por Hugues de Varine, o seu esboço já existia nos pensamentos de
Georges Henri Rivière, que podem ser considerados uma base para o que Varine definiria de "museu
ecológico", no sentido de museu do homem e da natureza, relativo a um
território sobre o qual vive uma população.
1.1 – Implantação em França
Rivière e
Varine, foram os primeiros secretários gerais do lCOM e desempenharam um papel
fundamental para o surgimento do conceito de ecomuseu, em França, depois da II Guerra Mundial, e ao seu
nascimento. Um nascimento que aproveitou a tomada de consciência, por parte do estado
francês, do seu excessivo centralismo por volta da década de 1950 e
início dos anos 60, numa altura em que cresceram
problemas como o baixo nível de vida ou o êxodo rural.
Em 1963, a
aplicação de uma nova política de ordenamento do território vai tornar turismo numa importante fonte de receita, particularmente para
determinadas zonas rurais, especialmente as que se encontram em áreas protegidas, onde em
1967 começam a ser criados parques naturais regionais. Os financiamentos
destinados aos parques permitem a criação de estruturas museográficas e as
novas ideias, ligadas à "Nova Museologia", vão sendo postas em prática, com o conceito de ecomuseu a
implantar-se e a desenvolver-se, criando um estatuto próprio.
Ainda em 1971 a Maison de l’Homme et de
l’Industrie criou na localidade de Creusot, o que pode ser considerado de protótipo de ecomuseu, onde a ideia era levar os visitantes a tomar iniciativa e a
apropriar-se das acções do museu.
1.2 – Definição
De acordo
com palavras de Rivière, o conceito de ecomuseu é evolutivo e como tal não pode
ser definido de forma estática, acompanhando a evolução da sociedade e sendo
uma instituição dinâmica.
O Rivière citaria F. Hubert, em 1993,
afirmando que ele próprio, Rivière, teria construído três versões diferentes da
definição evolutiva do ecomuseu, remontando a primeira ao ano de 1973, em que caracterizava o ecomuseu como um
museu de um novo género, tendo por base três noções: a interdisciplinaridade
baseada na ecologia, união com a comunidade e a participação desta comunidade na sua
construção e no seu funcionamento. Já três anos depois, em 1976, surgiria a
segunda definição, referindo a sua estrutura como um museu que surge
violentamente, formado por um organismo
primário coordenador e organismos secundários, tendo como um dos seus
objectivos a interpretação do meio
ambiente natural e cultural, no tempo e no espaço. A terceira versão,
em 1980, entende o ecomuseu como o museu
instrumento dos indivíduos e da natureza, museu do tempo, museu do espaço,
sendo por isso o local de excelência para a real expressão da humanidade e da
natureza.
Neste quadro,
pode recorrer-se à definição que Jean Clair apresentou no seu livro de
1976, em que descreve o ecomuseu como "Museu
do espaço e museu do tempo, ele se ocupa de apresentar, por sua vez, as
variações de diversos lugares num mesmo tempo, de acordo com uma perspectiva
sincrônica, e as variações de um mesmo lugar em diversos tempos, de acordo com
uma perspectiva diacrônica".
Na mesma
obra, referindo-se à necessidade de agir para proteger estes conjuntos
ambientais, Clair explica ainda que "O que o Ecomuseu postula, mais do que uma participação do
público, é uma cooperação dos habitantes".
Entretanto,
Varine constatou em 2005 que o termo "ecomuseu", em virtude de uma
série de mal-entendidos, foi sendo usado quer para designar esquemas inovadores, quer em projectos convencionais.
1.3 – Diferença para a forma tradicional
As
diferenças entre o "museu" e o "ecomuseu" podem ser
baseadas nas definições da "Nova Museologia" onde, por exemplo, André Desvallées, identifica
uma nova preocupação com o público e com
a forma como o espaço se dirige ao público. Uma preocupação que não se foca
na quantidade de público, mas sim na qualidade
na interacção que possa haver entre o indivíduo e o objecto.
Em concreto,
para Varine, o "novo museu" é diferente do "museu"
tradicional em três vértices. Uma vertente é o realce dado ao TERRITÓRIO,
seja meio ambiente ou local, em vez de se realçar o prédio institucional.
Outro ponto está na ênfase colocada no PATRIMÔNIO, em vez de
ser dada à colecção e por fim, a importância dada COMUNIDADE em oposição ao
enfoque dado aos visitantes nos museus tradicionais.
Varine, em
1974, sintetizou estas ideias neste quadro: Museu Tradicional baseia-se na
tripé: Coleção, Público e Edifício; No Ecomuseu temos: Patrimônio, Comunidade,
Território.
II – ECOMUSEU PEDRA
FUNDAMENTAL DE BRASÍLIA (Ecopeb)
A ideia
de se criar o ECOPEB é resultado das inquietações históricas e
socioambientais de um grupo de pesquisadores da Eco-história do Planalto
Central do Brasil que se congrega em torno da concepção de historiografia de
autores cuja linha teórica segue os pressupostos metodológicos do historiador
Paulo Bertran (1948-2005). Esse autor buscou, em síntese, construir uma
historiografia por meio da qual concebe-se a historicidade de Brasília a partir
da pré-existência de sua territorialidade colonial na confluência ou
interconexão das zonas mineradoras (MG/BA x GO/MT) e pastoris (Vale do Rio São
Francisco – o rio dos currais). Em 1736 era oficializada por D. João V a
Estrada Real da Bahia, também conhecida como Estrada Geral do Sertão. Essa
estrada ou picada conectava caminhos, contagens e registros fiscais da Coroa
Portuguesa, mas também conectava pessoas, bens e serviços entre as duas zonas
citadas. O território que hoje constitui o Distrito Federal e seu Entorno
(RIDE-DF) é resultado desses intercâmbios entre os séculos XVIII e XIX. Brasília
não é somente fruto das pranchetas de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, ou dos “cálculos
políticos” da elite litorânea querendo apossar-se do interior do país para
incorporá-lo ao Capitalismo.
Brasília não pode mais ser
compreendida apenas dentro do projeto de interiorização do desenvolvimento
nacional pautando-se o debate acadêmico sob o crivo positivista (linha do tempo) demarcador
de datas a partir de Tiradentes (Inconfidência Mineira – 1789), da
Independência do Brasil (Correio Braziliense/José Hipólito Furtado de
Mendonça/José Bonifácio de Andrada), dos debates político-parlamentares do
Império e do início da República (1822-1930) e do idealismo utópico-personalista
de Juscelino Kubitschek (anos 1940/50). Se este tipo de compreensão sobre a
configuração de Brasília inclui tão somente uma concepção elitista sobre a
origem desse projeto, por outro lado, buscamos outro entendimento que passa
pela valorização de “narrativas marginais”, que foram historicamente relegadas
desde a década de 1950 quando Brasília fora construída e inaugurada.
Compreender Brasília e o impacto de sua modernidade sobre
o Brasil Central implica, pois, em construir novas concepções de historicidade
que levem em conta o Legado Histórico-cultural, Geográfico-institucional e
Socioambiental de Goiás e Minas Gerais na formação do território do Distrito
Federal. Mais do que interpretar leis (Constituição de 1891), mais do que
entender as diversas comissões (Missão Cruls – 1892/1894 – entre elas), mais
que mistificar a edificação da nova capital (profecia de D. Bosco – 1883), o
ECOPEB se propõe a pautar um novo debate acadêmico que compreenda Brasília e a
RIDE-DF (Região Integrada de Desenvolvimento do DF e Entorno, instituída pela
Lei Complementar 94/98) como uma só unidade cultural, histórica e socioambiental,
valorizando a contribuição do Sertão Planaltino (conceito do historiador Luiz
Ricardo Magalhães) enquanto espaço de interações multiculturais, sim, mas com
foco no rico repositório de tradições, experiências históricas e ambientais acumuladas
e multisseculares.
Percorrer
esses itinerários onírico-utópicos nas curvas do tempo poético-ecomitológico em
travessias literário-musicais do Planalto Central não é apenas voltar-se ao
Passado do DF-Colonial, mas também devolver aos herdeiros dos antepassados desses
lugares-ecomuseus vivos de Brasília a valorização da ancestralidade de fazeres
e saberes locais que persistem na Modernidade sem sucumbir-se à Globalização. O
ECOMUSEU PEDRA FUNDAMENTAL DE BRASÍLIA – ECOPEB traz em seu bojo três objetivos
ou princípios basilares:
A.
Promover estudos multidisciplinares que reconstituam
a eco-historicidade dos lugares ou paisagens culturais anteriores à inauguração
de Brasília (1956-1960) e as narrativas dos grupos sociais comunitários que os
habitam, produzindo materiais teóricos e pedagógicos (livros, documentários, cartilhas,
etc) que possam orientar professores e estudantes a construírem uma sólida e
duradoura consciência de pertencimento social-ecológica fundada na
reapropriação coletiva dos bens patrimoniais ainda existentes no Norte do DF e
em seu Entorno, inclusive pelos moradores dessas localidades;
B.
Promover visitas monitoradas (passeios pedagógicos
ou eco-turísticos junto às paisagens e às comunidades locais) ao longo da
região abrangida pelo ECOPEB como estratégia de valorização e divulgação
permanente dessas comunidades, territórios, patrimônios, legados...
C.
Montar nas casas dos moradores e em repartições
públicas (escolas) situadas na área de abrangência (no DF: Planaltina,
Sobradinho I e II, Fercal, Paranoá, Itapuã e Lago Norte; em Goiás: Planaltina,
Água Fria de Goiás e Formosa), diversos espaços interativo-comunitários aos
quais denominamos de Centros de
Referência Identitária e Apoio Regional aos Transeuntes do ECOPEB – CRIARTE.
III – Referências:
v https://pt.wikipedia.org/wiki/Ecomuseu, acesso em 2/9/16. Sinopse feita pelo historiador Xiko
Mendes a partir da fonte citada.
v www.cerratense.com.br
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